Monday, October 30, 2006

 

O CÉU DA POBREZA

Completei recentemente 39 anos.
Foram anos intensos, todos eles... Uns bem vividos, outros penosos, mas todos importantes.
Sei que cada dia fico mais sábia, porque cada dia aprendo com a vida e com os outros, mas quanto mais sei mais me angustio com o mundo que deixo por herança aos meus filhos e aos filhos dos outros.
Há algum tempo o meu "patrão" convidou-me a participar naquilo que algumas Empresas apelidam de "Marketing de Charme" - Chamaram-lhe "Vôo contra a Pobreza" e consistia em fazer um baptismo de vôo a crianças carenciadas, proporcionar-lhes uma experiência única (tão banal para milhares de outras). Aceitei e fiz o vôo mais bonito e mais doloroso da minha vida - o olhar daquelas crianças transmitiam tantas emoções e contavam tantas histórias...
Certamente foi um dia feliz para elas e isso devia bastar-me! Mas não passa um dia que não os recorde, que não me questione como estará cada um deles...
E no final de cada vôo, ao ver os milhares de toneladas de alimentos que são destruídos, que as Companhias de Aviação e as Empresas de Catering não distribuem, por causa dos problemas que daí podem advir, não posso deixar de perguntar onde está o "Voo contra a Pobreza"?

Publico um texto escrito por uma menina de oito anos, da Costa Rica (que também podia ter sido escrito por uma criança da Costa de Caparica ou doutro qualquer lugar, podia ter sido escrito pelos meus filhos, pelos teus, por um irmão ou vizinho)e que me comove pela ternura e beleza que só são possíveis porque advêm da simplicidade e da inocência de uma criança, que apesar da fome, consegue sonhar...


"O CÉU DA POBREZA"

Na minha casa há dois quartos,
duas caminhas, uma só janelinha,
e um gato branco.

Na minha casa comemos só à noite
quando o papá volta para casa
com o saquinho cheio de pão
e peixe seco.

Na minha casa somos todos pobres
mas o papá tem olhos azuis,
a mamã tem olhos azuis,
meu irmão tem olhos azuis,
eu tenho olhos azuis,
e o gato também tem olhos azuis.

Então,
quando nos sentamos à mesa
a nossa casa parece um céu azul..."

Friday, October 13, 2006

 

DEZ ANOS...DE VIDA EM MIM

"Dantes, em tempos muito recuados, os humanos eram hemafroditas e Deus separou-os em duas metades que, desde então, erram pelo mundo à procura uma da outra."
Mito do "Banquete" de Platão

Faz hoje dez anos que reencontrei a minha outra parte errante, num Ser Maravilhoso: o JOÃO! O meu Amigo, o meu Companheiro, a melhor parte de mim, aquele que dispensa palavras e máscaras, aquele com quem a cumplicidade permite uma liberdade física e mental partilhada em dois corpos distintos, que em perfeita sintonia e sincronia atingem a plenitude...e a expressão terrena desse imenso Amor são três pequenos seres:BEATRIZ, LEONOR e JOÃO! Obrigada meus Amores!

"Olho-te agora na memória legenda e a beleza impossível existe, que para isso é que é impossível."
Vergílio Ferreira


VIDA EM MIM

Passei a vida a lutar e a perder,
A querer amar e, depois, a esquecer...
Agora que deixei de procurar,
Consegui um grande Amor encontrar!

E eu quero amar-te perdidamente!
Como nunca antes amei ninguém...
Quero estar em ti em cada instante
Porque só tu...podes ser esse alguém!

Quero ser a mais intensa luz -
Um luar de seda que te seduz -
E ser, por fim, um mundo de cetim...

E em cada afago e beijo,
Quero que ardas de desejo...
Por seres toda a vida em mim!
Helena Silva, 13-10-1996/2006

“Há imensas pessoas que escolhem as mesmas vidas porque gostam de fazer coisas juntas.”
Richard Bach

Estamos à tua espera. Faz boa viagem!

Monday, October 09, 2006

 

VIAGENS NA ALMA E NO SER ...DA DIGNIDADE - A poesia de Helena Silva

UM SÓ GRITO

Quero sair de mim mesma,
Quero ver o absoluto que é o mundo,
Necessito afastar-me deste drama
E sentir a imensidão, num abraço profundo...

Na origem deste meu constante lutar
Encontra-se um amor exacerbado,
Insatisfeito pelo meu eu inibido,
Ao qual, tento dar um contorno nítido
Antes de o enviar.

Quero sentir que o absoluto é meu;
Quero sentir a alma dilatar-me o peito;
Quero poder morrer a amar...
Alguém que nunca saiu do seu eu,
Alguém nunca antes visto.

E quando achar que não vale mais
Por a dor ser demais,
Para calar um sofrimento perfeito
E as lágrimas que me adormecem no leito,
Quero condensar a vida num só grito!

 

Homenagem a...Paulo...e Manel... e a tantos militares!

GUERRA...ODEIO-TE!


Conheci-te numa noite banal
Que tornaste tão especial...
Era passagem de ano, dizem...
Para nós era o além...
Entramos noutra dimensão
Aquela onde só um eleito
Invade o nosso coração
E partilha o nosso leito.
Sabia que em breve partirias
Para uma guerra que desconhecias...
Eu, da guerra guardo como lembrança
O medo de criança
Por ver nos olhos dos pais
Raiva contida pelo temor e impotência
Perante a prepotência
De um grupo de “animais”...
Assim, sem nunca entender
O que motivava o teu ser,
O que te levava a seres capaz
De deixar um país em paz,
Aquele por quem juraste bandeira
Porque, mesmo sendo militar de carreira,
Partias livremente,
Para a Bósnia ser independente...
Só me restava fazer a despedida
A um amigo que pode perder a vida...
E criar alguns momentos,
Cuja memória posterior
Te aliviasse os tormentos
E amenizasse a dor
Quando trocasses Santa Margarida e S.Jacinto,
Por um qualquer recinto,
No frio dos Balcãs...
Esperanças vãs...
Partiste lindo, forte e cheio de glória!
Será assim que te guardarei na memória...
Estiveste ausente, de corpo e mente...
Tanto tempo... que eras já quase irreal...
E quando regressaste, finalmente,
Continuavas lindo e o porte era tal
Que, por breves instantes, achei-te igual...
Mas quando olhei melhor
E ultrapassei as cortinas da dor,
Vi mais...as gelhas na face
E o olhar pertubantemente ausente
Disseram o que sempre calaste:
Eras um farrapo em corpo de gente!...
Que mesmo coberto de amor,
Jamais perderias aquela melancolia
E que, com doentia euforia,
Aceitavas uma última missão:
Viver em permanente solidão...
Restou-me cumprir o luto
E prestar-te o meu tributo...
Guerra – odeio-te!
Militar – adoro-te!


Lisboa, Aeroporto de Figo Maduro, 1995
A todos aqueles que sofrem os males da guerra, fazendo ou não parte dela!

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