Monday, October 09, 2006

 

Homenagem a...Paulo...e Manel... e a tantos militares!

GUERRA...ODEIO-TE!


Conheci-te numa noite banal
Que tornaste tão especial...
Era passagem de ano, dizem...
Para nós era o além...
Entramos noutra dimensão
Aquela onde só um eleito
Invade o nosso coração
E partilha o nosso leito.
Sabia que em breve partirias
Para uma guerra que desconhecias...
Eu, da guerra guardo como lembrança
O medo de criança
Por ver nos olhos dos pais
Raiva contida pelo temor e impotência
Perante a prepotência
De um grupo de “animais”...
Assim, sem nunca entender
O que motivava o teu ser,
O que te levava a seres capaz
De deixar um país em paz,
Aquele por quem juraste bandeira
Porque, mesmo sendo militar de carreira,
Partias livremente,
Para a Bósnia ser independente...
Só me restava fazer a despedida
A um amigo que pode perder a vida...
E criar alguns momentos,
Cuja memória posterior
Te aliviasse os tormentos
E amenizasse a dor
Quando trocasses Santa Margarida e S.Jacinto,
Por um qualquer recinto,
No frio dos Balcãs...
Esperanças vãs...
Partiste lindo, forte e cheio de glória!
Será assim que te guardarei na memória...
Estiveste ausente, de corpo e mente...
Tanto tempo... que eras já quase irreal...
E quando regressaste, finalmente,
Continuavas lindo e o porte era tal
Que, por breves instantes, achei-te igual...
Mas quando olhei melhor
E ultrapassei as cortinas da dor,
Vi mais...as gelhas na face
E o olhar pertubantemente ausente
Disseram o que sempre calaste:
Eras um farrapo em corpo de gente!...
Que mesmo coberto de amor,
Jamais perderias aquela melancolia
E que, com doentia euforia,
Aceitavas uma última missão:
Viver em permanente solidão...
Restou-me cumprir o luto
E prestar-te o meu tributo...
Guerra – odeio-te!
Militar – adoro-te!


Lisboa, Aeroporto de Figo Maduro, 1995
A todos aqueles que sofrem os males da guerra, fazendo ou não parte dela!

Comments:
Esta é uma homenagem à honra da quem serviu, que enobrece quem a faz, tanto como exalta quem é homenageado.
Um abraço
 
Escolher ser Militar tem destas coisas, implica viver intensamente determinados momentos que não somos capazes de esquecer no dia a dia e "arrastamos" quem connosco quer partilhar sentimentos e emoções.
 
Humedecem-me os olhos e não consigo ver as teclas…desculpa tenho de parar. É só um momento já passa.
Como descreves tão bem os desenhos da minha alma e da de outros que tiveram o infortúnio da vivência, o privilégio da camaradagem e a ausência do corpo e mente.
Pensamos ser sempre os mesmos, mas aqueles que nos conhecem acham-nos diferentes quando voltamos. Não estivemos num espaço físico diferente mas noutra dimensão. Por vezes sinto-me melhor lá.
Um dia destes fui ao IKEA. Havia gente por todos os lados e entrei em pânico. O meu filho mais velho acolheu-me nos braços e ali fiquei até serenar.
Que estranho, deveria ser o contrário.
Não escrevo mais, a emoção é forte e tolda-me o raciocínio. Voltam os fantasmas dos que comigo serviram e não voltaram. Terão as suas almas ficado lá? Recordo-os jovens.
A ti dignidade um obrigado do tamanho do mundo. Tu percebes, és mulher, geras vida não tiras…tu percebes.
Um beijo
 
A homenagem sensibiliza, o comentario do Manel nao menos... Força *
 
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